COTAS SOCIAIS É SINAL DE BONS PRESSÁGIOS a aprovação do Projeto de Lei 546/2007 pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. O projeto que garante 50% das vagas de instituições federais de educação profissional e tecnológica das universidades a estudantes que cursaram o ensino fundamental em escola pública mostra-se como uma medida justa diante da polêmica em torno do sistema de cotas no Brasil. Em contraponto às cotas raciais, que priorizam a cor da pele do estudante, o novo projeto beneficia aqueles menos favorecidos financeiramente que tenham, conseqüentemente, passado por desvantagens sociais. Uma política assertiva, sendo o Brasil um país composto em todas as suas classes sociais por origens étnicas distintas. A proposta, que ainda pode sofrer alterações na Câmara dos Deputados, tinha em seu texto original da senadora Ideli Salvatti (PT-SC) a reserva de vagas só para o ensino técnico e profissionalizante. Com a emenda do senador Marconi Perillo (PSDB-GO), foi estendida a todas as instituições federais de ensino superior e prevê a divisão das vagas seguindo a proporção de negros e indígenas do Estado em que a instituição estiver localizada. Trata-se de um caminho prometedor para a educação no Brasil. Diferentemente de políticas raciais, como a Lei de Cotas (PL 73/1999), que conduzem o país a um retrocesso em uma afronta ao princípio de igualdade da Constituição, as vagas reservadas a alunos da rede pública indicam mudanças virtuosas. Em 1993, segundo a senadora Ideli, cerca de 650 mil alunos completavam anualmente o ensino médio divididos meio a meio entre rede pública e privada. No ano passado, o número de alunos da rede privada foi de 320 mil enquanto o de escolas públicas subiu para 2,1 milhões. O intuito é contornar e modificar injustiças que vinham sendo perpetradas. É inadmissível que leis que carregam a bandeira de suprimir desequilíbrios estruturais dividam a nação e ampliem a desigualdade. Não se pode tentar reduzir preconceitos quando, na verdade, aprofundam-se desfiladeiros econômicos e sociais que separam negros, brancos e indígenas. Não se discute aqui a necessidade essencial de programas compensatórios para pagar a dívida social a herdeiros de um passado desvantajoso. Ainda que a Constituição de 1891 tenha cunhado a abolição do escravismo e não eliminado seqüelas de racismo, há problemas atuais de magnitude perturbadora. O preconceito de classe enraizado na sociedade brasileira é um exemplo. Medidas precisam sanar os profundos abismos entre ricos e pobres. A desigual distribuição de renda tem sido uma das principais mazelas do país. De nada adianta, portanto, insistir no equívoco de projetos que deixam o país retalhado, com brancos, negros, amarelos e índios cada vez mais segregados. Aceitar uma humanidade dividida em raças é um passo para admitir diferenças biológicas e chegar-se a convicções de superioridade. A proposta, como acertadamente observou o ministro da Educação, Fernando Haddad, "dilui a questão racial" ao estabelecer a distribuição proporcional pelo recorte da escola pública. Vem, ainda, a calhar no momento em que se prevê aumento do número de vagas em universidades federais serão 229 mil em 2010, contra as 124 mil do ano de 2002, além de 25.105 novos cargos em instituições federais ensino superior. Contra o ciclo que marcou gerações de negros e pardos que permaneceram com menor acesso a escola e a melhores salários, convém paciência, tempo e trabalho árduo. Investimentos nos ensinos básico, fundamental e médio podem ser eficientes a longo prazo, ao criarem um país em que quaisquer cotas serão, um dia, dispensáveis. O intuito é contornar injustiças que vinham sendo perpetradas
JB - 05/07/08
sábado, 5 de julho de 2008
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