segunda-feira, 30 de julho de 2007


Era um caminho tão pequeno e apertado por onde passei, que preferi fechar os olhos, pois somos todos olhos, acreditamos no que vemos. Depois de fechados somos só imaginação, e então, de repente o caminho triplicou de tamanho...

sábado, 28 de julho de 2007

Tu que não és Cecília.

Eu canto num canto o canto dos pássaros,
Canto Amélia, canto Maria e Cecília,
Invoco o nome das musas adormecidas
Embaladas com cuidado em sua suave melodia.
A harmonia das terças – feiras dão
Um vigor individual para cada
Sensação acolhida pelos meus sentidos.

E tu de onde vens?
Tu, que chegastes e entrastes
Pelo corredor como um vulto,
Tu que não és Amélia, nem Maria e nem Cecília,
Tu que me visitas e se tornas objeto da minha angústia,
Que pondera os meus pesares e
Influencia minhas inclinações.

Tu que me idiotizas!

E nem sequer me cumprimentas
Dizendo-me o teu nome.
Sei que tu só queres me embaraçar,
Não queres nada comigo
Nem saber de minhas paixões possíveis
Queres me instigar ao erro, a comédia,
Queres que eu seja uma tragédia grega,
Ou uma novela mexicana.
Então eu grito até perder a voz
E exaurir a força que resta da minha desgraça e pergunto:
Quem és tu ?

Última lembrança

De tudo o que sobra
resta tão pouco para mim.
Só me ficam papéis escritos,
folhas bagunçadas sobre a mesa e a ausência.

Ainda encontro farelos de pão na pia,
xícaras usadas e roupas pelo chão.

O cheiro do momento único está gravado aqui no ar.
Posso sentí-lo entrando por meus poros,
e então o tempo pára.

O som da tua boca em meu ouvido
solfejando pequenos gracejos,
soltando sincrônicos suspiros,
a respiração vai ficando mais intensa
até o momento em que cessa
e tudo é nada!
Nada mais existe,
porque o daqui a pouco já chegou agora.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Definição

Eu sou aquele que busca o som nas palavras,
Que descobre o encoberto onde ninguém mete o nariz!
Transformo o que posso em poesia.

A vida é uma encenação,
Um teatro das possibilidades,
Muitos caminhos e pouca filosofia.

Vivo num mundo onde as pessoas não mais pensam;
Elas fazem e pronto!

Visto roupas coloridas,
Vejo graça até nos protozoários sem remexendo.
Uso chinelos de couro, mas gosto mesmo é de andar descalço,
Esquio nas férias, não sei jogar bola....

Sou viril! Às vezes ranzinza,
Me misturo na possibilidade de minhas multifacetadas personalidades.

Posso nadar, ficar até um minuto sem respirar,
E, vou avisando logo: já lutei capoeira.

Sou bom em educação física,
Péssimo em matemática,
Química nem se fala...

Passo roupa somente aos domingos,
Nos feriados aprecio Portinari e Giacometti,
Ouço “música de velho”,
Faço a barba um dia sim um dia não,
Mas lavo as mãos sempre antes de comer.

Só durmo de cueca, não ronco, mas balanço as pernas
E sei que isso é chato pra caralho

Admiro uns poucos,
Tomo um litro de sorvete sozinho,
Me magôo à toa e não perdôo as injúrias.
O problema de me ultrajar, é que nunca se sabe
A quem estão ultrajando.

Ando de bicicleta, mas somente de manhã,
Esculpo, pinto, escrevo, crio.

Sou filho da literatura, da poesia, da arte.
Só faço o que me der na telha,
De resto, não faço
Mais nada e chega.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A grande espera

Espero.
Cai a última gota bem lentamente enquanto
é resolvido o enigma.
As metades são movidas de dentro para fora
até chegarem à superfície;
flutuam em plena margem para sua própria satisfação,
deleite indecifrável...
A impossibilidade é passível do momento,
vai meneando, meneando, tornando-se equilíbrio
a cada troca de gestos.

Espero.
Me vejo sendo o limite das interseções,
sou abrangente e me pinto às vezes de laranja,
às vezes de azul,
e cores.
Aguardo o cair da última gota.
Momento à momento vou encontrando meus personagens desgastados,
descobrindo os seus desejos,
e vou manipulando seus destinos,
e criando um mundo novo habitado pelas ilusões perdidas,
onde sou ( protagonista ) narrador e ouvinte
das minhas próprias aspirações solitárias,
dos meus sonhos idos.

Espero.
Ela vai caindo,
e vai adquirindo forma,
e vai adquirindo peso,
e vai diminuindo o espaço entre a chegada e a
possibilidade de chegar.

Espero.
Espero porque hoje somos os mesmos de ontem,
com inclinações diferentes,
perdidos entre o real e o inventivo.